Estivemos em terras (ou águas, melhor dizendo) argentinas. Fomos Guilherme e eu, até a Província de Corrientes, na pequena cidade de Ita Ibaté.
Pescamos no imponente Rio Paraná, principal rio da quarta maior bacia hidrográfica da Terra. Lá, muito diferente daqui, está bem preservado. Não foi dilacerado por diversas barragens, tornando o grande rio de águas rápidas, com enormes corredeiras e centenas de ilhas em uma sequência de enormes lagos para geração de energia elétrica.
Beira o absurdo viajar 1500 quilômetros, por dois países, para pescar em um rio que dista 20 minutos de minha casa. Quem dera fosse apenas uma piada!(de muito mal gosto)
Mas não é.
Ao chegar lá, e ver aquela imensidão de águas, (correntes, diga-se de passagem) com tamanha abundância de diversas espécies da Bacia do Prata, em especial o dourado e a piracanjuba, esta quase extinta nos cursos d'água pátrios, é impossível não sonhar, imaginar como seria nossas águas se houvesse um minimo de cuidado e respeito.
Cota zero, como estipulado pela leis argentinas, é obrigação nossa, diante dos danos causados em nome do progresso.
Salto Urubupungá. |
Salto Urubupungá |
Salto Urubupungá |
Uma curiosidade sobre o nome Três Irmãos, como também é chamada a represa entre Itapura e Pereira Barreto. Sim, é uma homenagem. Mas, ao contrário do costumeiro neste tipo de deferência, estes não morreram. Apenas foram silenciados.
Salto de Itapura. |
Salto de Itapura, Salto de Urubupungá e Saltinho.
Salto de Itapura |
Saltinho |
Salto de Itapura |
Salto de Itapura. |
A Ilha Grande, também inundada por Jupiá, era formada, a oeste, pelo canal principal do Rio Paraná vindo do salto maior de Urubupungá, e a leste pelo braço menor do Paraná, com origem no Saltinho, e ao sul pelo Rio Tietê. Dessa forma, o braço do Saltinho era afluente do Tietê, e este, por sua vez, afluente do Paraná.
Grade da Usina de Itapura, hoje submersa, junto com o salto, pela barragem de Jupiá. |
Antiga Foz do Rio Tiête. A direita a Ilha Grande. |
Foz do Rio Tiête (hoje) |
Um capricho da natureza. Como se o Paraná, de certa forma, se rendesse a magnitude de outro grande rio, deitando parte de suas águas nele. Porém, impondo-se novamente pouco depois, tomando para si o todo.
Temos também os rios Sucuriú, Verde, Aguapeí, Peixe, Pardo, todos machucados de forma indelével em razão do desenvolvimento, bem como, de interesses econômicos. Como exemplo, o fechamento da represa de Porto Primavera, que a CESP, após derrubar uma liminar do Ministério Público de Presidente Prudente/SP, e ainda sem Licença do Ibama, iniciou o enchimento do lago artificial a tempo de entrar no pacote de privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso, de forma a inclui-la em uma venda conjunta com as usinas de Jupiá e Ilha Solteira.
Um dos maiores desastres (Crime! Para dizer verdade!) ambientais já ocorridos no Brasil.
Ponte ferroviária no Jupiá - Rio Paraná. |
Rio Paraná seguindo para o sul. |
Rio Paraná. |
Foz do Rio do Peixe |
Para um "filho" da bacia do Prata, apaixonado pelo Dourado como sou, saber que tem um paraíso, criado por Deus para este peixe, destruído pela mão do homem, me põe abatido. Navegar por estas águas paradas de hoje, ciente do que está perdido abaixo da linha d'água é, para dizer o mínimo, deprimente.
Miseravelmente, não há o que ser feito. Não se ouve mais o "entoar" das águas.
Estão em silêncio. O rio não "(en)canta" mais.